Estrela Negra
de Yhuri Cruz

Homens poderosos e gananciosos
Guardavam uma luminosa estrela em seu calabouço
Nos dias de festa, orgias e debates
Destrancavam os portões para a estrela sair

Todos festejavam em presença da estrela
Quando surgia brilhante no palco
Sua luz era mágica e realizava desejos
Era um evento muito raro ela existir

Quando acabavam as festas, orgias e debates
A cansada da estrela se retirava abatida
Sua luz natural estava quase extinta
Se encaminhava para o calabouço onde podia dormir

Recuperava a luz clara que servia aos homens
Poderosos e gananciosos e estúpidos homens
Que logo a acordavam com gritos e desejos
E lá ia ela de novo, a luz cansada, lhes distrair

Era dia ou era noite? Impossível dizer…
Quando os homens estúpidos vieram lhe acordar
Dentro do calabouço havia um clima frio e de trevas
Ouviu-se na escuridão: nossa estrela se apagou, ela não está mais lá!

Foi assustador quando aqueles homens se foram
Frustrados e raivosos, sentindo a escuridão lhes cegar
Não conseguiram enxergar sua estrela cativa
Mas, ainda viva e presente, a estrela permanecia lá

Estava diante de todos, mas ninguém a viu
Pois aquele seu corpo de estrela decidiu se apagar
Sobrou apenas uma densa e confusa matéria negra
Dois braços duas pernas uma cabeça preta, onde antes havia luz no lugar

Os homens haviam deixado os portões destrancados
Afinal, não se via mais estrela para explorar
A matéria escura abandonou o calabouço
Nem olhou pra trás, nunca mais iria voltar

Andou pelo mundo todo, dentro e fora dos palcos
Uma estrela negra na terra dos homens
Algum tipo de liberdade a escura alcançou
Quando sua luz parou de brilhar

E é curioso que na recusa da luz
Podem brotar em nossos caminhos
Novos destinos novos desejos
Em uma escuridão particular

Estrela Negra (2023). Instalação. Granito e corda. Projeto comissionado por Parque das Ruínas, Rio de Janeiro.

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